Cavernas subaquáticas: um mundo submerso de maravilhas

Ao longo dos últimos 10 anos, o mergulho em cavernas, se tornou umas das minhas ferramentas de trabalho. Mergulhar nas cavernas me permite trabalhar com levantamentos e monitoramentos em ambientes extremamente relevantes e essenciais para a manutenção dos recursos hídricos. Além disso, as cavernas subaquáticas são habitats de animais raros e únicos, muitas vezes adaptados à vida em águas subterrâneas profundas, cujo acesso só é possível através do mergulho em cavernas.  

O mergulho em cavernas é considerado uma atividade técnica do mergulho,  exigindo um tipo de formação específica e, também, habilidades diferenciadas do mergulhador quando comparamos com  o mergulho recreativo em águas abertas. 

De fato, conhecemos muito pouco das cavernas espalhadas pelo planeta e isto é ainda mais evidente, quando entramos no mundo das cavernas subaquáticas. Esse tipo de exploração já foi considerada uma das atividades mais perigosas para o ser humano.  Contudo, ao longo do tempo, a partir da análise de risco e do histórico de acidentes, foram se consolidando os procedimentos e as configurações de equipamentos adequados para cada tipo de situação que encontramos em cavernas subaquáticas. Atualmente, o mergulho em cavernas pode ser considerado uma atividade segura, desde que se respeite as condições de cada nível de treinamento, da caverna, o plano de mergulho, assim como, as configurações e ajustes dos equipamentos.

     

Quanto  às habilidades, o mergulhador de cavernas se diferencia do mergulhador de águas abertas em primeiro lugar pela posição do corpo na água e pela forma de movimentar as pernas  durante o seu deslocamento.  Na caverna é extremamente importante que o mergulhador se mantenha com corpo posicionado na horizontal e até inclinado com a cabeça mais voltada para baixo do que o restante do corpo, mantendo as pernas dobradas em L, se movimentando de forma circular para manter o fluxo da água para cima. Este modo de natação é chamado entre os mergulhadores de pernada de “rã”. A postura corporal do mergulhador é extremamente importante para evitar o deslocamento de sedimentos na água, afetando assim a visibilidade. 

A capacidade de controlar de modo refinado a flutuabilidade também é essencial para que o mergulhador consiga se deslocar pelos condutos da caverna da maneira mais suave possível, sem deixar que os equipamentos se esbarrem nas paredes, blocos e teto, ou até enrosque no cabo guia. Com o tempo de prática, o mergulhador de cavernas consegue desviar de obstáculos controlando apenas o volume do seu pulmão, assim como fazem os peixes com a sua bexiga natatória.

Mergulhadora Adriana Castro, na Gruta do Mimoso. FOTO: Ruver Bandeira / ACERVO GRUTA DO MIMOSO

Outra questão que diferencia bastante o mergulho em cavernas do mergulho em águas abertas é o fato que no ambiente da caverna o mergulhador se mantém constantemente sob teto. Neste caso, em qualquer situação que haja necessidade de voltar à superfície rapidamente, é necessário voltar todo o caminho até a entrada da caverna.  Para garantir que o caminho de volta esteja acessível ao mergulhador mesmo em uma condição em que a visibilidade da água seja alterada, os mergulhadores de cavernas são treinados para instalar um cabo guia ao longo de todo o trajeto percorrido. No cabo guia são fixadas setas e cookies, que são sinalizadores que possibilitam saber a direção do caminho de volta à entrada da caverna, mesmo em um situação de perda da visibilidade. 

 Também, o fato de estar em um percurso sobre teto reforça a necessidade da redundância na configuração dos equipamentos de caverna. Esta é uma regra fundamental e, por isso, os mergulhadores sempre possuem o dobro ou o triplo de tudo o que precisam,  incluindo o gás necessário para o mergulho, lanternas e máscaras.

 Agora, alguns riscos relacionados ao mergulho em cavernas são bastante interessantes e implicam no comportamento do próprio mergulhador: o pânico e o deslumbramento. Ser uma pessoa calma e bastante metódica na organização dos equipamentos, geralmente são características comuns entre os mergulhadores de cavernas. Manter a calma para resolver qualquer problema que ocorra lá embaixo é essencial, pois entrar em pânico durante um mergulho pode levar a vários outros problemas como perder o controle da flutuabilidade, deslocar sedimentos com movimentação eufórica do corpo e até se enroscar no cabo guia.  Se há um deslumbramento quando o mergulhador se vê diante deste “outro mundo”, pode ocorrer a perda do foco nos equipamentos,  como o computador e o manômetro, se afastar do dupla ou do cabo guia. 

Bem, agora você já sabe um pouco mais sobre o mergulho em cavernas, teria vontade de vivenciar esta experiência? 

Uma resposta para “Cavernas subaquáticas: um mundo submerso de maravilhas”

  1. Quais são os principais desafios e precauções que os mergulhadores precisam considerar ao explorar cavernas subaquáticas, conforme discutido no artigo ‘Cavernas Subaquáticas: Um Mundo Submerso de Maravilhas’?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *