Como as mudanças climáticas estão afetando as cavernas?

As mudanças climáticas têm sido o principal tema dessa década, isso porque cada vez mais vemos o quão extremo tem se tornado os fenômenos naturais em resposta a tanta destruição ambiental. 

Com isso perdemos até mesmo o desconhecido, animais nunca avistados, plantas com propriedades medicinais que sumiram, paisagens nunca analisadas em seu estado original, além da nossa história humana que é contada a partir das nossas interações com esse todo.

Se esses desastres afetam o que conhecemos, quem dirá ecossistemas que ainda nem foram descobertos ou são quase inexplorados e já estão ameaçados?! Esse é o caso das cavernas.

Buraco do Padre, Ponta Grossa – PR. Foto por Luiza Sessegolo. Fonte: Imagem cedida.

Os ecossistemas cavernícolas são conhecidos por serem estáveis, isso porque são ambientes onde a umidade é elevada e o clima é pouco variável, tendendo a estabilidade, em geral apresentando uma temperatura média em relação à externa. 

A partir de oscilações do clima externo, essa temperatura estável no interior das cavernas, podem ser alteradas, podendo representar alterações significativas para o ambiente e às espécies associadas. 

Por isso, vamos apresentar um pouco mais sobre a relação íntima do clima e as cavidades subterrâneas.

Primeiro ponto a levar em consideração com certeza é a diversidade de espécies animais e, para compreendê-la, temos que se atentar ao fato que ambientes cavernícolas não possuem luz, logo, plantas. Isso indica a necessidade da matéria orgânica para nutrição dos animais que lá vivem ser trazida do mundo externo.

Styloniscidae iuiu, espécie troglóbia por Rodrigo Lopes. Fonte: CECAV.

Existem três categorias que descrevem a fauna das cavernas: troglóbios, trogloxenos e troglófilos, sendo alguns existentes somente naquele local, ou seja, são endêmicos devido ao alto grau de especialização dentre as espécies, principalmente, no primeiro grupo citado.

Mas vamos lá!… Os troglóbios são os animais que mais passaram por especialização na evolução dos ambientes subterrâneos, com populações pequenas eles não possuem melanina porque não precisam se camuflar nem se proteger do sol e os olhos não se fazem necessários por conta do escuro, aguçando outros sentidos como o tato e o olfato percebendo de maneira muito eficiente predadores e mudanças ao seu redor. São animais que vivem sua vida toda em uma caverna.

Diphylla ecaudata . Morcego, animal trogloxeno. Fonte: Acervo Ecossistema

A forma mais simples de explicar o que é um trogloxeno é falando dos nossos queridos morcegos que são animais que usam a caverna como abrigo e reprodução, mas precisam sair para se alimentar, ou seja, são animais que vivem obrigatoriamente lá porém costumam sair.

Por último, mas não menos importante, os troglófilos fazem parte do grupo que são bem adaptados a vida cavernícola, podem viver a vida toda lá, mas não é obrigatório que seja assim, vivem bem em outros espaços escuros e úmidos como casca de árvores, em meio a folha e troncos, cupinzeiros, etc.

Amblipígio, animal troglófilo. Fonte: Acervo Ecossistema

No Brasil, hoje são conhecidas cerca de 22.623 cavernas, podendo chegar, segundo especialistas, até 300 mil, mas apesar de diversas pesquisas científicas terem sido efetuadas para buscar compreender a riqueza de espécies presentes nesses locais, há muito para descobrir e entender. Na América do Sul, nosso país é o mais rico em fauna cavernícola, sendo mais de 600 espécies conhecidas.

Além das espécies que são catalogadas e estudadas, outra espécie utilizava as cavernas para se abrigar e desenvolver suas primeiras impressões sobre o mundo ao seu redor, isso mesmo, a humana, o que nos leva ao segundo ponto: a Arqueologia.

Registros arqueológicos têm sido identificados a partir de pinturas rupestres, especialmente em zonas de entrada de abrigos e cavernas.

Ilha de Sulawesi (ou Celebes),  Indonésia. Fonte: Google Maps.

Na ilha de Sulawesi, na Indonésia, a pintura rupestre remonta 45 mil anos atrás, quando a parede das cavernas se tornaram telas que contam vivências, ideias e mitos daquele tempo.

Mas essas pinturas que mudaram a nossa forma de observar a evolução humana – onde era representado grandes mamíferos e seres híbridos lá no Pleistoceno (muuuuuito tempo atrás), guardando informações para nosso tempo – estão sumindo de forma mais intensa agora, apesar de ser um processo iniciado na década de 1950.

De acordo com o estudo publicado no Scientific Reports, verificou-se processos que estão afetando esses importantes registros. Trata-se do fenômeno de haloclastia, isto é, a fragmentação de rochas e minerais por consequência dos cristais salinos que ocorrem quando a água entra em contato com a caverna. As rochas absorvem os sais e com a evaporação da água incham e encolhem conforme o ambiente aquece e esfria, gerando estresse na pedra. Esse processo tem afetado 11 cavernas de calcário em Maros-Pangkor, no sul de Sulawesi.

“Visivelmente grande, a criatura suína possivelmente representa um alvo de caça  para o artista que a pintou na parede da caverna”. Ilha de Sulawesi, Indonésia. Foto por Maxime Aubert.  Fonte: National Geographic Brasil, 2021.

Com essa superfície modificando, seja por desfazer ou mudando o local do desenho, esses sais acabam por danificar os desenhos, podendo provocar seu desaparecimento.

E é nesse momento que as mudanças climáticas entram, as artes rupestres de Sulawesi estão nos trópicos onde o aquecimento global se faz 3 vezes mais intenso, assim os sais crescem ainda mais que seu tamanho inicial, além disso, os eventos extremos de longas secas e tempestades e enchentes, aumentam ainda mais a variação dentro das cavernas.

Aqui no eCaves, você recebe informações e um caminho para partilhar os conhecimentos sobre cavernas para que cada vez mais pessoas saibam da importância dessas raras e grandes belezas que existem. Assim, cada vez mais todos os ecossistemas são levados em conta no enfrentamento às mudanças climáticas! Todos podemos fazer nossa parte!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *